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Durante mais de sete décadas, a Palestina tem sido o epicentro de uma das crises mais prolongadas e politicamente manipuladas do planeta.
O mundo declara querer paz, mas financia a continuidade do conflito.
Milhares de milhões de euros fluem todos os anos para um território onde a miséria se tornou instrumento político e o sofrimento um capital de poder.
A vitória que ninguém quer
Israel venceu há muito tempo.
É uma potência militar e tecnológica regional, com fronteiras estáveis e capacidade de defesa sem paralelo no Médio Oriente.
Mas a vitória total — integrar Gaza ou dissolver o problema palestiniano — é impossível, porque implicaria voltar a administrar dois milhões de civis pobres, hostis e radicalizados.
O direito internacional, os acordos com o Egito e a pressão dos Estados Unidos impedem Israel de assumir o controlo direto de Gaza.
A comunidade internacional prefere manter o status quo a enfrentar as consequências de uma ocupação definitiva.
Assim, Israel vence militarmente, mas perde politicamente, e o Hamas sobrevive da ambiguidade.
A Palestina como economia subsidiada
A chamada economia palestiniana é sustentada por transferências internacionais permanentes.
Desde os anos 90, a ONU, a União Europeia e vários países árabes canalizam milhares de milhões em ajuda humanitária, salários públicos e reconstrução.
Mas o dinheiro não cria autonomia, cria dependência.
Na Cisjordânia, a Autoridade Palestiniana sobrevive com fundos externos e impostos transferidos por Israel.
Em Gaza, o Hamas controla a economia paralela, baseada em contrabando, corrupção e propaganda.
Grande parte da ajuda é desviada para estruturas militares e comunicação ideológica.
Cada guerra destrói o que foi reconstruído; e, logo após, a comunidade internacional paga novamente.
O resultado é um ciclo perverso: destruição, piedade, reconstrução, nova destruição — sempre pago por quem está de fora.
O fator religioso
O conflito é frequentemente descrito como religioso, mas a fé é aqui instrumento, não causa.
Israel define-se como Estado judeu e base identitária do Judaísmo moderno.
O Hamas, de inspiração islâmica sunita, justifica o domínio de Gaza com a retórica da “resistência sagrada”.
Ambos usam símbolos religiosos para legitimar posições políticas, mas a guerra é pelo território, pelo poder e pela sobrevivência.
Jerusalém, ponto de interseção das três grandes religiões monoteístas — Judaísmo, Islamismo e Cristianismo — é o epicentro simbólico de uma disputa política travestida de fé.
O paradoxo da compaixão
À primeira vista, o mundo parece agir por solidariedade.
Mas a ajuda à Palestina é um mecanismo de contenção, não de libertação.
O Ocidente financia a crise para evitar o colapso total da região e o êxodo de milhões de pessoas.
Paga-se para que o problema não transborde, não para que desapareça.
Cortar o financiamento destruiria a rede de sobrevivência imediata, mas também forçaria Israel e o Egito a assumir responsabilidades diretas — algo que nenhum quer.
Por isso, a ajuda internacional é, na prática, o preço da estabilidade global.
Um conflito que serve a todos — menos ao povo
O povo palestiniano é a única parte que nada ganha com o prolongamento da guerra.
Refém do Hamas em Gaza e de uma Autoridade Palestiniana inerte na Cisjordânia, vive entre o bloqueio e a repressão interna.
A “causa palestiniana” converteu-se num sistema económico que alimenta carreiras diplomáticas, ONGs e agendas ideológicas, mas não constrói um Estado.
O mundo finge procurar soluções enquanto gere o problema.
A paz não é inviável — é apenas inconveniente.
A verdade essencial é esta: o conflito israelo-palestiniano persiste porque é útil.
É politicamente rentável, economicamente financiável e moralmente confortável.
Todos lucram com a sua continuidade — menos o povo que o sofre.
Israel quer segurança, o Hamas quer poder, a ONU quer relevância, a Europa quer estabilidade, e os Estados Unidos querem equilíbrio diplomático.
A Palestina, no meio, continua a viver da ajuda alheia e da promessa eterna de um Estado que nunca chegará.
Lino Gonçalves
Diretor de Informação