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Quase metade dos portugueses considera que as vantagens da vida no campo superam as da cidade. Motivados pelo teletrabalho, pela procura de bem-estar e por uma relação mais próxima com a natureza, muitos estão a repensar o modelo de vida urbano e a procurar alternativas em territórios rurais.
Em Portugal, 48% dos residentes urbanos afirmam que os benefícios da vida rural se sobrepõem aos da cidade. Além disso, 53% dizem ter alterado a sua perceção sobre viver no campo, enquanto outros 53% identificam o teletrabalho como um fator determinante para ponderar essa mudança. Os dados refletem uma tendência mais ampla de transformação nos estilos de vida e na forma como o trabalho se articula com o território.
Este movimento acompanha o cenário europeu. Segundo um estudo do Vodafone Institute for Society and Communications, realizado em 2021, 56% dos europeus expressaram o desejo de deixar a cidade para se reconectar com a natureza. Entre os habitantes das grandes cidades, 45% admitem que a pandemia alterou a sua visão sobre a vida rural, enquanto 69% apontam a proximidade com a natureza como a principal vantagem de viver no campo.
Perante este contexto, começam a surgir projetos que procuram responder não apenas ao stress laboral, mas também à necessidade de repensar a relação entre trabalho, saúde e sustentabilidade ambiental. Um desses exemplos é a Traditional Dream Factory (TDF), uma aldeia regenerativa localizada no Alentejo que combina tecnologia, comunidade e práticas sustentáveis.
A TDF apresenta-se como a primeira aldeia regenerativa tokenizada da Europa. O projeto propõe um modelo onde a tecnologia está ao serviço da regeneração ambiental e da vida comunitária. Aqui, a resposta ao esgotamento urbano não passa por desligar, mas por reconectar. Reconectar com a terra, com a comunidade e com o próprio ritmo biológico.
Emily, arquiteta londrina, chegou à TDF após anos de trabalho intenso e uma doença crónica. “Londres oferecia-me oportunidades, mas não tempo. O meu corpo precisava de uma pausa”, explica. Na aldeia, encontrou um quotidiano mais lento e uma nova relação com a saúde. “Aprendi a ouvir o meu corpo e a caminhar sem pressa. Todos os dias vejo como a terra se regenera, e isso ajuda-me a regenerar também.”
Uma motivação semelhante levou Kinga, antiga gestora de produto em Berlim, a trocar o escritório pela horta. O que começou como duas semanas de voluntariado transformou-se em sete meses de aprendizagem. “Trabalho à chuva, preparo composto e cuido de galinhas. É exigente, mas é real”, afirma. Para Kinga, o esforço físico e o desconforto temporário compensam uma vida mais equilibrada e ligada à terra.
Luna, designer de luxo que hoje trabalha como especialista em sexualidade somática, chegou à TDF depois de uma viagem pela América em busca de significado. Como membro fundadora da aldeia, atua na área da hospitalidade e na integração de novos residentes. “Viver e trabalhar deixaram de ser coisas separadas. Posso ser eu mesma e dedicar o meu trabalho à regeneração ambiental”, refere.
A vida na Traditional Dream Factory não é isenta de desafios. Invernos rigorosos, verões intensos e obras constantes fazem parte do quotidiano. No entanto, entre o silêncio interrompido pelo canto dos pássaros e o trabalho coletivo, constrói-se uma comunidade focada em governança partilhada, economia local, cuidados com as crianças e aprendizagem contínua.
Num espaço onde se aprende permacultura, construção sustentável, culinária e facilitação de grupos, a regeneração surge como objetivo comum. “Em tempos de crise climática e desconexão social, voltar às origens não é uma utopia. É uma necessidade”, conclui Luna. “Regenerar a terra é regenerar a vida.”
Conteúdo publicado pelo iPressJournal.pt.
