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Neste Dia Mundial do Cancro do Pâncreas, é essencial alertar para uma das doenças oncológicas mais letais e silenciosas da atualidade.
O cancro do pâncreas surge quando as células desta glândula abdominal crescem de forma descontrolada. A sua forma mais comum, o adenocarcinoma ductal pancreático, representa mais de 90% dos casos e é conhecida pela sua agressividade.
Números que exigem ação urgente
As estatísticas são preocupantes. Ao contrário de outros tumores, a incidência e a mortalidade do cancro do pâncreas têm vindo a aumentar. É já a quarta causa de morte por cancro.
Em Portugal, em 2021, foram diagnosticados 1.378 novos casos, com um número de mortes praticamente idêntico.
As projeções indicam que, até 2035, esta doença poderá tornar-se a segunda principal causa de morte por cancro no país e no mundo. Isso traduz um aumento de 51%.
A elevada mortalidade deve-se ao diagnóstico tardio: cerca de 80% dos doentes são diagnosticados em fases avançadas. Nestas fases, a cirurgia — o único tratamento com intenção curativa — já não é viável.
A taxa global de sobrevivência a 5 anos é de apenas 13%, mas varia consoante o estadio da doença. Pode atingir 44% na fase localizada, mas desce drasticamente para 3% na doença metastizada.
Fatores de risco e sinais de alerta
Alguns fatores, como a idade e a predisposição genética, não podem ser alterados. No entanto, muitos outros estão associados ao estilo de vida e são passíveis de prevenção:
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Tabagismo – principal fator de risco, duplica a probabilidade de desenvolver a doença.
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Obesidade e excesso de peso – aumentam o risco em cerca de 20%.
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Diabetes – duplica o risco, sobretudo se surgir de forma súbita após os 50 anos, podendo ser um sinal precoce da doença.
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Dieta pouco saudável – rica em açúcares refinados, gorduras, carnes vermelhas e produtos processados.
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Pancreatite crónica – frequentemente associada ao consumo excessivo de álcool e tabaco.
A história familiar de vários casos de cancro do pâncreas e certas doenças genéticas podem justificar o rastreio em centros de referência, permitindo diagnósticos mais precoces.
Os sintomas são muitas vezes tardios e inespecíficos, incluindo dor abdominal que irradia para as costas, perda de peso inexplicável, alterações digestivas (indigestão, vómitos, diarreia), surgimento súbito de diabetes ou icterícia (pele e olhos amarelados).
Diagnóstico, tratamento e esperança
O diagnóstico baseia-se em exames de imagem, como tomografia computorizada (TC) ou ressonância magnética (RM), e é confirmado por biópsia.
O tratamento deve ser multidisciplinar, dependendo do estadio da doença.
A cirurgia curativa é possível apenas em 15 a 20% dos casos, quando o tumor está confinado ao pâncreas. Na maioria das situações, a quimioterapia é o tratamento principal. Pode ser complementada por radioterapia, com o objetivo de controlar a doença e melhorar a qualidade de vida.
A esperança encontra-se na prevenção e na investigação contínua, que tem permitido o desenvolvimento de novos regimes de quimioterapia e de técnicas cirúrgicas mais seguras e eficazes.
Conhecer o inimigo é o primeiro passo para o vencer. O tempo para agir é agora.
Alexandra Fernandes é gastrenterologista na ULS da Região de Leiria e presidente do Clube Português do Pâncreas (CPP).

