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Na Grécia chama-se portokáli. Na Turquia, portakal. Na Geórgia, portokhali. No Irão, porteghal. Nos países árabes, burtuqāl. Na Albânia, portokall. Na Roménia, portocală. E até nos Balcãs e no Cáucaso ecoa a mesma sonoridade. Em quase toda esta vasta região, da Europa Oriental ao Médio Oriente, o nome da laranja recorda um mesmo país: Portugal.
Poucos povos terão deixado uma marca tão doce na língua dos outros. Entre os séculos XV e XVI, os navegadores portugueses cruzaram mares e culturas, trazendo do Oriente a laranja doce (Citrus sinensis), até então desconhecida no Mediterrâneo. A variedade amarga vinda dos árabes já existia, mas esta nova espécie — mais suave, perfumada e saborosa — conquistou paladares e imaginários. Era a laranja que chegava de Portugal, e assim ficou conhecida: a fruta de Portugal.
O fruto que levou o nome de Portugal ao mundo
A história da laranja é também a história da influência cultural portuguesa. As caravelas regressavam de Goa, Cantão e Malaca carregadas de especiarias e tecidos, mas também de sementes e árvores que transformaram os mercados e os jardins da Europa. Quando os gregos provaram o novo fruto, chamaram-lhe portokáli — “a fruta que vem de Portugal”. O mesmo fizeram turcos, persas e árabes, e o nome espalhou-se como um perfume cítrico pelo Oriente.
Não foi uma conquista de espada nem de tratado, mas de sabor e curiosidade. O nome “Portugal” ficou gravado nos pregões das feiras, nas línguas do comércio e nos léxicos de civilizações antigas. Dizer burtuqāl no Cairo ou portakal em Istambul é, ainda hoje, pronunciar Portugal com o sotaque do Oriente.
A cor que nasceu de um fruto
Curiosamente, a cor laranja só entrou nas línguas europeias depois do fruto. Antes, dizia-se “amarelo-avermelhado” ou “acor-de-fogo”. Com a chegada da laranja doce, a cor ganhou nome próprio e presença nas pinturas, tecidos e poemas do Renascimento.
Na Índia, o termo narangi originou a palavra inglesa orange, mas no Oriente o fruto continuou a ser conhecido como “Portugal”. Ainda hoje, em Atenas, Istambul, Tbilissi ou Teerão, pedir um portokáli ou um porteghal é saborear, mesmo sem saber, um fragmento da história portuguesa.
Uma herança linguística única
Esta herança é um testemunho raro da memória viva das viagens portuguesas. Um país pequeno, de costas voltadas para o mar, deixou o seu nome espalhado por três continentes, não apenas em mapas, mas na doçura quotidiana de um fruto.
Talvez nenhuma glória seja mais serena e duradoura do que esta: ter dado nome à cor do sol e ao sabor do amanhecer.
Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor

 
		
 
											 
											