Tempo de leitura estimado: 2 minutos
Erguido sobre o vale fértil do Mondego, o Castelo de Montemor-o-Velho guarda uma singularidade que o distingue de todas as fortalezas portuguesas: a sua muralha de traçado quase circular. É uma forma rara, quase mágica, na arquitetura militar medieval, onde a pedra parece acompanhar o movimento do vento e a curvatura da colina.
Enquanto a maioria dos castelos portugueses foi moldada em linhas retas e ângulos estratégicos, Montemor preservou uma muralha contínua e fluida, que envolve o espaço numa curva harmoniosa. A sua origem remonta ao século IX, quando os muçulmanos ergueram a fortificação para dominar o vale do Mondego e controlar o acesso a Coimbra.
A forma ovalada não nasceu do acaso. Permitindo visão total e defesa sem ângulos mortos, era uma solução engenhosa que unia funcionalidade e beleza, a arte da guerra e o equilíbrio do território.
Com a Reconquista Cristã, os reis portugueses reforçaram torres, altearam ameias e ergueram templos dentro das muralhas — mas preservaram a forma original. Talvez tenham reconhecido naquela geometria uma sabedoria ancestral, uma inteligência arquitetónica que o tempo não conseguiu apagar.
Hoje, quem percorre o cimo das muralhas sente o eco dos séculos. A paisagem abre-se em todas as direções, o Mondego corre lá em baixo com a mesma cadência que acompanhou reis, cavaleiros e invasores. O castelo permanece firme, redondo e completo, como se o tempo girasse à sua volta.
Montemor-o-Velho é mais do que uma fortificação. É uma lição de continuidade e de beleza, um testemunho silencioso do engenho das civilizações que o construíram e preservaram. O único castelo de muralha redonda em Portugal recorda-nos que até a guerra, quando desenhada com arte, pode deixar marcas de perfeição.
Por Paulo Freitas do Amaral – Professor, Historiador e Autor