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As insolvências empresariais deverão continuar a crescer a nível mundial, com aumentos previstos de 6% em 2025 e 5% em 2026, antes de registarem um ligeiro recuo (-1%) em 2027, segundo o mais recente Relatório Global de Insolvências da Allianz Trade, líder mundial em seguros de crédito.
A análise revela que o impacto das tarifas impostas pelos EUA e as alterações no comércio internacional estão a exercer pressão sobre a liquidez e a rentabilidade das empresas em vários setores. No entanto, Portugal deverá contrariar a tendência global, com uma redução estimada de 8% nas insolvências em 2025, para cerca de 2.180 empresas, seguida de uma nova descida marginal de 1% em 2026.
Tendência global: cinco anos consecutivos de agravamento
O relatório da Allianz Trade assinala que, entre 2021 e 2026, o número de insolvências mundiais terá aumentado durante cinco anos consecutivos, atingindo em 2026 o nível mais elevado desde 2019, cerca de 24% acima da média pré-pandémica.
Em 2024, o aumento global foi de 10%, com especial incidência na Ásia (+39%) e na Europa Ocidental, onde Itália (+35%) e Suíça (+26%) lideraram o crescimento.
“À medida que as estratégias de mitigação se esgotam e os efeitos secundários se fazem sentir, os riscos de efeito dominó aumentam, com mais grandes empresas a entrar em incumprimento. Prevemos que as insolvências cresçam 5% em 2026, antes de inverterem ligeiramente em 2027”, explica Aylin Somersan Coqui, CEO da Allianz Trade.
Tarifas e tensões comerciais: um impacto adiado
O relatório destaca que as tarifas impostas pela administração norte-americana — que deverão atingir uma taxa efetiva de 14% até ao final de 2025 — estão a produzir efeitos diferenciados.
As empresas norte-americanas beneficiam temporariamente do redireccionamento de exportações através de países como Índia e Vietname, o que tem contido os custos e evitado um aumento das falências. Contudo, as economias exportadoras poderão ressentir-se já em 2026.
“No pior cenário, poderemos ver mais 6.000 insolvências em França, 2.900 em Espanha, 1.900 no Canadá e 700 nos Países Baixos”, refere Maxime Lemerle, analista-chefe do Departamento de Estudos sobre Insolvências da Allianz Trade.
“A Alemanha, o Reino Unido, a Itália e a Bélgica mostram maior resiliência, sustentadas por mercados internos robustos e bases financeiras mais sólidas.”
Boom tecnológico e IA: uma ameaça inesperada
A forte criação de novas empresas, impulsionada pela digitalização e pela economia gig, está também a aumentar o risco de falências futuras. Entre 2021 e 2024, o número de novas empresas foi 9% superior na Europa e 36% superior nos EUA face ao período pré-pandemia.
“O crescimento acelerado de startups e o fim de um possível boom da Inteligência Artificial podem gerar novas ondas de insolvências — um fenómeno comparável à bolha das dotcom”, alerta Ano Kuhanathan, Diretor de Estudos Empresariais da Allianz Trade.
Segundo as estimativas, um eventual “crash” da IA poderia provocar 4.500 novas falências nos EUA, 4.000 na Alemanha, 1.100 no Reino Unido e 1.000 em França.
Três vulnerabilidades críticas para as empresas
A Allianz Trade identifica três fatores de risco centrais que continuarão a pressionar as empresas:
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Crescimento económico moderado, insuficiente para estabilizar o número de insolvências;
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Condições financeiras restritivas, com taxas de juro elevadas e crédito limitado, afetando especialmente as PME;
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Fragilidades setoriais específicas, com maior exposição nos setores da construção e automóvel, devido a juros altos, rutura tecnológica e concorrência crescente.
Portugal mantém trajetória positiva
Apesar do cenário global adverso, Portugal destaca-se pela estabilidade macroeconómica e pela solidez financeira das empresas, o que explica a previsão de descida de 8% nas insolvências em 2025.
Este desempenho positivo reflete o controlo da inflação, o crescimento do turismo e das exportações, e uma redução do endividamento empresarial face ao período pandémico.