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A FAO alerta: mais de 33% da superfície mundial já está degradada
A degradação do solo ameaça a biodiversidade e a segurança alimentar, colocando em risco a estabilidade dos ecossistemas. Este fenómeno, impulsionado por práticas agrícolas intensivas e pelas alterações climáticas, exige soluções urgentes para restaurar a fertilidade e garantir a sobrevivência das gerações futuras.
Durante a primeira quinzena de novembro, a ecoaldeia Traditional Dream Factory (TDF), localizada em Abela, no Alentejo, promove uma formação prática em permacultura, uma alternativa concreta e ética que propõe restaurar os solos e criar sistemas resilientes em harmonia com a natureza.
Solos degradados, ecossistemas em risco
A crise climática é hoje uma realidade visível. O planeta enfrenta uma perda acelerada de biodiversidade, a extinção de espécies e a deterioração do solo. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), mais de 33% dos solos do mundo estão já degradados, comprometendo a estabilidade ecológica e a produção alimentar.
A agricultura intensiva, a desflorestação, o pastoreio excessivo e o uso de fertilizantes químicos agravam a erosão e reduzem a matéria orgânica dos solos. À medida que perdem capacidade de reter água e nutrientes, os terrenos tornam-se inférteis, gerando um ciclo vicioso de dependência química e vulnerabilidade climática.
Permacultura: regenerar em vez de explorar
«A permacultura é uma alternativa que não apenas trava a degradação, mas também regenera a terra», explica Samuel Delesque, cofundador da TDF. Esta prática baseia-se em princípios de design inspirados na natureza e aplica-se à agricultura, à gestão de água e energia, ao planeamento de habitações e à organização social.
A filosofia assenta em três pilares: cuidar da terra, cuidar das pessoas e partilhar os excedentes.
«Na prática, isto significa devolver fertilidade ao solo com compostagem e cobertura vegetal, reduzir o uso de químicos, captar água da chuva e promover a biodiversidade que sustenta a vida», acrescenta Delesque.
“Hands-On Permaculture 101”: aprender fazendo
Para disseminar estes princípios, a TDF organiza o workshop “Hands-On Permaculture 101”, que combina teoria e prática para ensinar a regenerar ecossistemas locais. O curso decorrerá na primeira quinzena de novembro e aposta numa aprendizagem imersiva: os participantes terão contacto direto com técnicas de cultivo regenerativo, gestão da água e planeamento sustentável.
«O nosso objetivo é que cada participante saia com ferramentas concretas para aplicar na vida quotidiana, desde o cultivo de alimentos regenerativos até ao desenho de espaços sustentáveis», afirma a equipa da TDF.
Comunidade, cooperação e regeneração
Mais do que um conjunto de técnicas agrícolas, a permacultura é uma filosofia de comunidade. «A regeneração começa quando as pessoas se conectam entre si e com a terra», sublinha a organização. O workshop pretende, assim, fortalecer redes locais e fomentar projetos colaborativos em torno da sustentabilidade.
No dia 1 de novembro, será realizado um Open Day, aberto ao público e gratuito, com atividades introdutórias e um Land Tour guiado, onde será possível observar como os princípios da permacultura são aplicados no terreno e transformam a paisagem num ecossistema produtivo.
«A cada dia vemos solos a degradar-se e ecossistemas a desaparecer. A permacultura oferece soluções práticas para inverter esta tendência. Não se trata de voltar ao passado, mas de projetar um futuro regenerativo», conclui Delesque.
Sobre a Traditional Dream Factory
A Traditional Dream Factory (TDF) é uma ecoaldeia localizada em Abela, Alentejo, que promove um novo modelo de coexistência regenerativa entre pessoas e natureza. É a primeira manifestação física da OASA, organização sem fins lucrativos que visa criar uma rede global de comunidades regenerativas.
A TDF demonstra que é possível otimizar recursos, reduzir impacto ambiental e construir uma comunidade criativa e próspera. O projeto utiliza um modelo de Land Trust, em que a terra pertence a uma associação e os membros têm o dever de cuidar do território.
Aberta à colaboração, a TDF convida todos os interessados a participar nesta experiência regenerativa e a contribuir para a disseminação de práticas sustentáveis que possam ser replicadas em outras regiões do mundo.

