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António Lino, nascido em Guimarães, destacou-se como um dos mais relevantes artistas de arte sacra em Portugal no século XX. Escultor, pintor, desenhador e autor de vitrais e mosaicos, desenvolveu uma obra marcada por forte componente espiritual e técnica apurada, integrando tradições estéticas europeias com identidade própria. O seu trabalho espalhou-se por Portugal e pelo estrangeiro, tornando-se presença constante em espaços religiosos, instituições públicas e locais de grande visibilidade.
Os vitrais, pinturas e esculturas de António Lino permanecem em igrejas de várias dioceses — Braga, Coimbra, Viseu e Lisboa — onde a luz, a cor e o simbolismo assumem um papel central. No Tribunal de Aveiro, as representações das Sete Obras de Misericórdia revelam a dimensão humanista da sua obra. Em Lisboa, nas gravuras instaladas na Cidade Universitária, subsiste a ligação entre conhecimento, fé e sentido estético. No Ministério da Segurança Social, os painéis sobre a Providência continuam a ser referência visual do edifício há várias décadas.
O reconhecimento internacional também marcou a sua carreira. Trabalhos desenvolvidos para instituições religiosas na Terra Santa e apreciações positivas recebidas no Vaticano revelam a projeção do artista além-fronteiras. Durante o Estado Novo, António Lino foi identificado como um dos principais representantes da arte sacra portuguesa, integrando projectos públicos de grande escala.
Após 1974, contudo, a sua obra enfrentou um período prolongado de afastamento do espaço académico e expositivo. A mudança de paradigmas estéticos e culturais levou a que muitos artistas associados a linguagens tradicionais ou à arte sacra fossem progressivamente omitidos das narrativas oficiais da história da arte. O resultado foi a diminuição da sua presença em exposições, catálogos e programas universitários, apesar de grande parte da sua produção continuar instalada em edifícios públicos e religiosos.
A memória do artista enfrentou ainda outro episódio marcante: no final da década de 1990, um incêndio na sua antiga residência em Odivelas destruiu esboços, estudos e materiais de trabalho. Parte do seu acervo, ainda não catalogado, ficou irremediavelmente perdida.
Apesar de longos anos de menor visibilidade, o legado de António Lino permanece presente em dezenas de espaços públicos e privados. As suas obras continuam acessíveis diariamente a milhares de pessoas, muitas vezes sem identificação explícita do autor. A redescoberta e valorização do seu percurso artístico têm sido impulsionadas por investigadores e historiadores que reconhecem o impacto da sua contribuição para a arte sacra contemporânea em Portugal.
A sua trajectória reflecte também as transformações culturais e políticas do país ao longo do século XX, bem como a forma como diferentes contextos históricos influenciam o reconhecimento ou o esquecimento de determinados criadores. A permanência do seu trabalho em tantos locais confirma que a qualidade artística resiste ao tempo e ultrapassa mudanças de regime, estilos ou tendências. A obra de António Lino continua disponível para investigação e redescoberta, abrindo caminho para novas leituras e enquadramentos.
Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor

